O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a abertura comercial pode fazer o Brasil avançar 40 anos. Mas o que exatamente significa essa abertura e como ela seria feita?
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o Brasil avançará 40 anos em 4 no que diz respeito a abertura comercial. Guedes faz alusão à frase do ex-presidente Juscelino Kubitschek que disse que o Brasil cresceria 50 anos em cinco durante o seu governo.
Kubitschek, que governou o país de janeiro de 1956 a janeiro de 1961 realmente entregou o país muito diferente do que encontrou. No entanto, seus esforços de industrialização, que de fato resolveram problemas sérios na balança comercial, trouxeram problemas inéditos ao Brasil. Será que a proposta de Guedes também pode resolver um problema e nos presentear com outro?
Abertura comercial seria realmente vantajosa?
A fala do Ministro brasileiro aconteceu por conta do ‘medo’ que alguns empresários e parlamentares brasileiros teriam ficado após perceber que há um grande esforço do Brasil em realizar robustos acordos comerciais com a China.
De modo geral, o Brasil estaria focado na elaboração de acordos de livre comércio sino-brasileiro, o que significa na prática, uma diminuição de impostos incidentes na importação e exportação entre os países, além da diminuição de instrumentos burocráticos envolvendo as duas nações.
De antemão já é possível cravar que seria um excelente negócio… para a China, que diante do distanciamento dos Estados Unidos como parceiro comercial, precisa encontrar urgentemente, praças que possam absorver a produção manufatureira chinesa.
Não é todo ruim para o Brasil, ademais, não tem aquela história de que quanto mais competição, menor o preço e maiores as qualidades? Pois bem, o Brasil precisa sim de maior concorrência e, com isso, poderemos ter o sabor de comprar produtos melhores e mais baratos. Que sonho!
Só existe um problema nisso tudo, é preciso combinar esse enredo com a China. Se a concorrência fosse, de fato, a salvação da lavoura, Trump não estaria envolto a uma delicada guerra comercial, justamente com o nosso maior parceiro comercial.
É necessário dar condições para que as empresas domiciliadas no Brasil possam concorrer com quem quer que seja. Guedes garantiu que o faria, mas será?
Políticas industriais requerem atenção
Primeiramente tem a história do que se convencionou chamar de choque de energia barata. Segundo o Ministro, o preço do gás natural poderia cair entre 30% e 40%. Além disso, haveriam os cortes de custos logísticos pelo uso mais intensivo da cabotagem – uso de navios que transitam apenas pela costa brasileira.
A reforma tributária, importante projeto que já tramita pelo Congresso Nacional também poderia trazer algum alento nos custos dos empresários nacionais e da maior poder de fogo aos mesmos.
O primeiro passo tem que ser dado senão nada acontecerá, mas não acredite leitor em fórmulas mágicas. Abrir os mercados, ainda que de forma gradual, como prometeu o nosso ministro, requer amplo cuidado com a nossa indústria para que esse novo suspiro da concorrência por aqui seja de vida e não de morte.
Reindustrialização e indústria 4.0
Uma das coisas que pode ser feita é preparar a indústria nacional com o que há de mais moderno como, por exemplo, elementos que caracterizam a indústria 4.0 – termo ligado à modernização dos processos industriais, unindo os processos de produção ao mundo digital.
Só que neste quesito, nós brasileiros estamos bem atrás. Ainda que uma parcela generosa da nossa agroindústria e outros segmentos dentro da indústria de transformação possa nos encher de orgulho, de modo geral o Brasil encontra-se desamparado.
Inovação tecnológica implica em mais investimento em pesquisa e desenvolvimento, a mão do Estado ajudando no desenvolvimento de tecnologias cujo interesse privado só virá com importante defasagem temporal e não apenas com choque de energia barata.
Pelo nosso retrospecto, políticas industriais não gerarão mais investimento. Se não olharmos a situação de forma holística, qualquer redução de custo, por maior que seja a boa vontade do ministro, podem virar simplesmente lucros, que não tornar-se-ão investimento até que a crise política do Brasil e dos seus vizinhos seja totalmente dissipada.
Perspectivas
Uma abertura comercial pode trazer bastante dinheiro para o Brasil.
Tem muita empresa grande interessada no mercado consumidor de 201 milhões de habitantes.
A despeito de toda crítica que se possa fazer com relação ao processo de (des)industrialização no longo prazo, bem ou mal, pode ser um atenuante para a taxa de câmbio.
Como nada disso vai acontecer agora, e como a instabilidade política também deve demorar a passar, por enquanto, é Dólar caro aqui no Brasil.
Veremos!
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André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.
Foto: José Cruz/Agência Brasil