Investidores estrangeiros colocam o Brasil como destaque para se investir entre os mercados emergentes, mas apontam algumas ressalvas, como a alta volatilidade da moeda.
Na última semana os investidores brasileiros tinham motivos de sobra para ficarem orgulhosos O país foi eleito como o destaque como a oportunidade de investimento para 2020, dentre os países emergentes. E não foi em qualquer lugar não, relatórios de diversos bancos de investimento como o J.P. Morgan, Credit Suisse, UBS, Goldman Sachs e BTG Pactual acreditam que as ações de mercados em desenvolvimento estão baratas com o fortalecimento do dólar e os impactos da guerra comercial entre EUA e China.
O nosso destaque frente aos demais, é que outros países da América Latina, África do Sul e Turquia enfrentam turbulências vindas das ruas, o que impede que reformas estruturais avancem e isto abre o caminho para que possamos ser o novo queridinho.
Contudo, apesar da comemoração vista em nossa Bolsa de Valores que acumulou novas altas, nem tudo é um mar de rosas. Ainda é preciso levar em consideração que não recuperamos a nossa nota de grau de investimento. Sem o selo de bom pagador, que é requisito para parte dos fundos estrangeiros investirem no país, o dinheiro corre o risco de não vir para cá.
Volatilidade da moeda é ressalva dos investidores
Além disso, outro ponto é muito importante que seja reforçado: a volatilidade de nosso câmbio pode atrapalhar a vinda de capital estrangeiro para cá.
Imagine só investir em um país que tem tamanha oscilação em sua moeda. Um dia vai tudo bem com a Bolsa em alta, no outro o câmbio oscila e devolve todo o seu lucro. O investidor estrangeiro para e pensa duas vezes antes de alocar o seu capital por aqui. Não é para menos, uma queda de R$ 0,10 em um dia não ocorre com o euro, por exemplo. Só isso já causa uma perda para quem aportou em dólares. Não é um exagero, já que o nosso país invariavelmente fica no ranking dos países com a moeda mais instável – comparando com os membros do BRICs, por exemplo.
Apesar do sentimento positivo, sem sinais de real crescimento do país e estabilidade da moeda, fica mais difícil a vinda do estrangeiro. Eles optam por esperar e avaliar melhor.
Veja só, o Itaú BBA divulgou uma pesquisa feita durante uma conferência com investidores institucionais em Londres, com a presença de Ambev, Arcos Dorados, Despegar e Genomma Lab e outras 100 instituições de investimentos (gestoras e fundos soberanos) com perfil de alocação de longo prazo.
De acordo com os participantes, 60% deles esperam que a velocidade do andamento das reformas acelere para que venham para cá. Já estão contentes com a aprovação da reforma da Previdência, porém entendem que o país precisa de mais avanços para crescer.
E não é só isso. A nota de risco dada pelas empresas de rating nem é vista como o principal fator, é um dos gatilhos para apenas 4% dos participantes. Não é realmente o fator preponderante, mas é essencial para alguns alocadores que não podem investir no país sem que tenha um mínimo de nota dada.
Além de que, a nota, bem como o investimento mais maciço dos investidores estrangeiros só deverá vir quando o país voltar a crescer (além das promessas) e se a moeda se manter em um patamar confortável. As idas e vindas apenas escancaram como somos um país vulnerável, que fica à mercê de falas de membros do governo, eventos políticos na região e que, apesar de ter uma boa expectativa, corre o risco de não entregar toda a projeção feita.
A falta de estabilidade institucional, política, jurídica e econômica do país nos prejudica não só pela imagem que temos lá fora, mas também de forma prática, sem a vinda efetiva de capital estrangeiro. E sem a entrada de dólares, a cotação da moeda não cai.
Glenda Mara Ferreira é Economista, bacharel em Relações Internacionais com experiência em planejamento financeiro. Atualmente é especialista em investimentos na Levante. Possui uma conta no Instagram sobre finanças pessoais e economia: @glendamara_ferreira