Visão Geral
Dados econômicos pouco animadores vindos da China neste início de semana reforçam a fragilidade pela qual passa a economia global neste segundo semestre.
Depois de problemas no setor de construção civil com a Evergrande e a Fantasia, macroindicadores mostram que os surtos localizados de Covid-19 e os gargalos produtivos produzidos pela pandemia trouxeram impactos mais significativos à economia chinesa do que se esperava há alguns meses.
A desaceleração da segunda maior economia global também é um problema do Brasil, pois poderá intensificar o processo crônico de desvalorização da moeda brasileira e contribuir com o aumento da inflação e diversos outros problemas que estamos enfrentando neste momento.
Acompanhe nossa análise a seguir.
A perda de fôlego da economia asiática e novos problemas à frente
A pandemia do novo coronavírus intensificou o processo de desaceleração do nível de atividade econômica chinesa.
Não que a economia asiática estivesse passando por problemas econômicos relevantes antes de 2020, afinal de contas, em algum momento a intensidade de crescimento haveria de arrefecer.
Em 2019, o crescimento da economia da China foi o menor desde 1990, mas ainda assim, foram 6,1% em relação a 2018.
No entanto, mesmo assumindo que números medíocres para patamares chineses seriam um sonho do consumo para o Brasil e diversos países desenvolvidos, é inegável a perda de ritmo de produção do país asiático.
Se o percentual de crescimento de 2019 foi relativamente baixo, em 2020 a situação ganhou contornos dramáticos. Órgãos oficiais chineses informaram que a economia local cresceu 2,3%, o ritmo mais lento desde 1976, quando a economia chinesa havia apresentado recuo de 1,6%.
Como se não bastasse a diminuição do ritmo de crescimento, agravada pela pandemia que estamos atravessando, a China se viu envolvida com uma importante crise no setor imobiliário.
A construtora asiática, Evergrande, tem passivos que somam cerca de US$300 bilhões. A insolvência da empresa representa riscos relevantes tanto para a economia chinesa como para as economias adjacentes.
A crise, que por hora está muito conectada às construtoras Evergrande e Fantasia, pode ser um sinal do esgotamento do modelo de crescimento adotado pela China nos últimos anos.
China, o banco de investimentos global
Essa perda de ritmo de crescimento pode produzir um efeito-dominó no mundo todo. Isso porque a China era a principal parceira comercial de mais de uma centena de países ao redor do mundo em 2018.
Depois da sua entrada na Organização Mundial de Comércio, em novembro de 2001, a China ganhou força no relacionamento comercial com países do mundo todo.
De lá para cá, a economia asiática não só se transformou no principal parceiro comercial da maioria dos países no mundo todo, como também exerceu profundas influências econômicas, sobretudo em países do sudeste asiático, africanos e latino-americanos.
Em algumas economias, a intensificação do relacionamento comercial com a China significou uma virada de 180º na pauta exportadora e, consequentemente, no tecido produtivo dos parceiros chineses.
Alguns países chegam a destinar cerca de três quartos de toda a exportação para o país asiático. Neste caso, a dependência da China não se restringe apenas a países subdesenvolvidos. Em 2018, cerca de 39% de tudo que a Austrália exportou teve como destino a China.
Para além da relação comercial, muitos países subdesenvolvidos necessitam da China para financiar déficits no balanço de pagamentos.
Como a China tem interesses comerciais e geopolíticos em diversos países de todos os continentes, não causa estranheza que ela seja uma das principais financiadoras de infraestrutura do mundo.
Apenas a título de curiosidade, de 1982 a 2000 a média anual de investimentos produtivos nos países da África Subsaariana foi de aproximadamente US$3,4 bilhões. De 2001 – ano de ingresso da China na OMC – a 2019, a média anual foi de US$29 bilhões. Um aumento de nada menos que 753%.
Maior parceira comercial do Brasil
Laos, um pequeno país do sudeste asiático com cerca de 7 milhões de habitantes, “ganhará” o primeiro trem-bala no próximo dia 2 de dezembro. A obra foi financiada pela China no âmbito do Cinturão e Rota, chamado também de nova rota da seda.
A viagem do Laos à China, que poderia durar dois dias em função do terreno extremamente acidentado da região, agora passará a levar apenas 3 horas.
No entanto, engana-se quem pensa que são apenas países vizinhos que dependem e, em alguma medida, se beneficiam da China. Essa também é uma realidade brasileira, que foi intensificada pela pandemia.
De janeiro a setembro deste ano o Brasil exportou cerca de US$213 bilhões, dos quais cerca de 34% foram enviados à China. No ano passado não foi diferente, de tudo que o país exportou, pouco menos de 34% foram enviados ao país asiático.
Para ter uma ideia do que são esses 34% da pauta exportadora, nosso segundo maior parceiro comercial, os Estados Unidos, importaram cerca de 9,5% de todo que o Brasil exportou de janeiro a setembro de 2021.
Nos investimentos diretos a China apresenta uma posição muito menor que a dos Estados Unidos, Espanha e França, por exemplo, mas ainda assim é o quinto país com maior posição pelo critério de controlador final no Brasil.
Tudo isso dá a tônica da importância do bom desempenho da economia asiática para o Brasil e para o mundo.
Os impactos no câmbio
Na última semana, o Banco Central do Brasil divulgou os dados semanais de fluxo de câmbio contratado e posição dos bancos brasileiros em moeda estrangeira.
Segundo o relatório, que já registrou saída líquida de quase US$45 bilhões em 2019 e cerca de US$28 bilhões em 2020, de janeiro ao dia 8 de outubro deste ano, houve ingressos líquidos de quase US$18 bilhões no país.
Olhando apenas para o movimento de câmbio contratado do mercado financeiro, o fluxo líquido está negativo em cerca de US$1,3 bilhão, enquanto que o movimento de câmbio comercial, ligado às operações de exportações e importações, ficou positivo em US$19,1 bilhões.
De modo geral, o que tem trazido recursos estrangeiros ao país é o resultado positivo da balança comercial, ou seja, apesar da desvalorização do real nos últimos meses, não fosse o bom desempenho das exportações a situação provavelmente estaria muito pior.
O sinal amarelo está ligado, nosso maior parceiro comercial está às voltas com reformas e crises que podem afetar o ritmo de crescimento do país e consequentemente o seu volume de importações, o que deve exercer impacto direto sobre a economia brasileira.
Cabe ressaltar que de janeiro a outubro do ano passado, o movimento líquido de câmbio contratado ligado ao comércio internacional estava positivo em quase US$34 bilhões, quase o dobro do mesmo período neste ano.
Alguns números já mostram que serão grandes os desafios para evitar uma forte desvalorização do câmbio por aqui.
Seguimos de olho.
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