De Olho no Câmbio #286: mercado reage após governo anunciar cortes

O mercado de câmbio iniciou a semana com relativa estabilidade com tendência de valorização do Real frente ao Dólar. No entanto, ruídos políticos internos e aumento nas incertezas fiscais fizeram com que a moeda norte-americana ganhasse terreno. A isso, soma-se o aumento das possibilidades de Donald Trump vencer as eleições de novembro e retomar suas políticas protecionistas, aumentando a aversão ao risco e fazendo com que o mercado busque refúgio no Dólar.

Na Zona do Euro, o Banco Central interrompeu a política de cortes de juros mesmo com a inflação ao consumidor convergindo para a meta. A preocupação é com o crescimento dos salários que tem refletido na inflação de serviços.

Já no Reino Unido, os dados de inflação foram piores do que o mercado projetava e se distanciou ainda mais da meta estabelecida pelo Banco Central. O resultado reforça a tese de manutenção da taxa de juros, o que vai fortalecer a Libra diante das demais moedas.

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Real x dólar

Começamos a semana com o dólar cotado a R$5,4292 na segunda-feira (15/jul), um nível 0,56% inferior à abertura da semana anterior (08/jul). A cotação da moeda estrangeira registrou valorização ao longo desta semana e o dólar abriu o pregão desta sexta-feira (19/jul) cotado a R$5,546, patamar 1,95% superior à abertura da sexta-feira anterior (12/jul). Entre as aberturas desta sexta (19/jul) e da segunda-feira da semana anterior (08/jul), vimos uma desvalorização do real em relação ao dólar de 1,58%.

A semana que se encerra foi pouco movimentada em termos de indicadores econômicos, o que não impediu que a moeda norte-americana ganhasse terreno frente ao Real. Os ruídos políticos nacional que refletiram na política fiscal e as eleições nos Estados Unidos foram fundamentais para que o Real se desvalorizasse.

A semana iniciou com o mercado tentando compreender como o atentado sofrido por Donald Trump poderia impactar as eleições norte-americanas de novembro. A percepção geral é que a tentativa de assasinato do ex-presidente aumentou as chances do republicano voltar a ocupar a Casa Branca e isso pode trazer um movimento de valorização do Dólar frente às demais moedas.

No entanto, as incertezas fiscais no Brasil foram preponderantes para que a moeda norte-americana revertesse a desvalorização que havia iniciado a semana. Na terça-feira (16), vazaram trechos de uma entrevista do presidente no qual ele colocava em dúvida o compromisso do governo com o cumprimento da meta estabelecida para 2024 e isso foi suficiente para que o Dólar escalasse de preço. No mesmo dia, contudo, foi divulgada a entrevista e isso tranquilizou o mercado.

A inflexão de fato veio na quinta-feira (18) através das falas da Ministra do Planejamento e Orçamento no começo do dia foram preponderantes para o nervosismo do mercado. A ministra afirmou que o governo não pode “gastar menos do que arrecada” e que o presidente Lula deu aval para criar quantos créditos extraordinários forem necessários para o Rio Grande do Sul e para o combate aos incêndios no Pantanal. As declarações foram interpretadas como uma possibilidade de não cumprimento da meta fiscal e aumentou a aversão ao risco interno.

Para atenuar os ruídos fiscais, após o fechamento do mercado, o Ministro da Fazenda anunciou o corte de R$15 bilhões do orçamento de 2024. Embora o número tenha sido abaixo do projetado, agradou os participantes do mercado.

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Real x euro

O euro abriu o pregão de segunda-feira (15/jul) cotado a R$5,9219. Na abertura desta sexta-feira (19/jul), a cotação foi de R$6,0895. Portanto, houve uma desvalorização de 2,83% do real frente à moeda europeia, rompendo a tendência que foi observada na semana anterior.

Com relação ao dólar, a moeda europeia ganhou força esta semana, mantendo a tendência da semana anterior. A cotação do euro na moeda estadunidense passou de US$1,0887 na segunda (15/jul) para US$1,0901, nesta sexta (19/jul). Portanto, vimos uma valorização do euro de aproximadamente 0,13% (leia-se: é preciso mais dólares para comprar um euro).

A semana na Zona do Euro ficou concentrada em indicadores econômicos e a decisão de política monetária pelo Banco Central Europeu. Em ambos os casos, não houve surpresas com relação ao que o mercado estava esperando.

Os resultados do IPC do bloco vieram em linha com o previsto pelo mercado tanto na comparação mensal como na anual. No entanto, a divulgação do núcleo da inflação (exclui os preços de alimentos e energia) mensal veio ligeiramente acima do projetado. 

Embora os resultados da inflação tenham vindo em linha com as expectativas do mercado, o Banco Central optou por manter as taxas de juros inalteradas, como esperado. Mesmo com a convergência da inflação para o centro da meta, permanecem ainda preocupações com os aumentos de salários que têm contribuído para aceleração da inflação de serviços. Isto tem sido decisivo para a postura cautelosa da autoridade monetária.

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Real x libra esterlina

A libra esterlina abriu o pregão de segunda-feira (15/jul) cotada a R$7,0547, patamar mais baixo que o registrado nesta sexta-feira (19/jul), R$7,1788. Trata-se de uma desvalorização de 1,76% do real em relação à moeda britânica. Portanto, a semana foi marcada por um movimento de desvalorização da moeda brasileira em relação à libra esterlina.

Em relação ao dólar, a moeda inglesa perdeu força no decorrer da semana, revertendo a tendência de valorização registrada na semana anterior, e abriu esta sexta-feira (19/jul) cotada a US$1,2949 após ter iniciado a semana cotada a US$1,2994, uma desvalorização de 0,35% da moeda britânica em relação ao dólar.

No Reino Unido, a semana também apresentou indicadores relacionados à inflação, emprego e vendas no varejo. Os resultados mostraram que a economia inglesa vem encontrando dificuldades para sair da estagflação que iniciou o ano.

Os resultados do IPC vieram em linha com o projetado pelo mercado na comparação mensal, mas acima do esperado na comparação anual. Já o núcleo da inflação veio acima das expectativas tanto na comparação mensal como anual, reforçando a percepção de que a inflação não está convergindo para a meta. A não convergência deve fazer com que o Banco Central mantenha as taxas de juros no atual patamar.

Com relação ao mercado de trabalho, houve estabilidade na medição mensal e esse resultado era o esperado. Embora o desemprego esteja baixo (4,4%), a inflação tem sido um impeditivo para o consumo se acelerar: as vendas no varejo em junho sofreram uma queda muito acima do que o mercado estava esperando, o que reforça a tese de estagnação da economia britânica.

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Perspectivas

A próxima semana será importante para os rumos da política monetária nos Estados Unidos quando será divulgado o PCE, métrica utilizada pelo Fed para suas decisões. A expectativa é de um resultado que favoreça o início do corte de juros na reunião de Setembro, o que pode garantir uma valorização do Real frente ao Dólar.

No entanto, as preocupações fiscais ainda podem se refletir no câmbio na próxima semana uma vez que na segunda-feira (22) o Tesouro Nacional divulgará o terceiro relatório de avaliação de receitas e despesas primárias. Embora Fernando Haddad já tenha anunciado corte de R$15 bilhões, o relatório deve mostrar se há ou não consistência no corte. 

No que tange ao Euro, os próximos dias devem ser de relativa estabilidade após a divulgação da taxa de juros. Os dados preliminares do PMI podem dar indícios de que a atividade econômica no bloco ainda permanece frágil e que novos cortes de juros podem entrar no radar. Caso isso se materialize, há uma leve tendência de fortalecimento do Real frente à moeda europeia.

Por fim, os dados econômicos do Reino Unido indicam ainda que a inflação está distante da meta estabelecida e isso reforça a percepção de que o Banco Central da Inglaterra (BoE) manterá as taxas de juros inalteradas. Essa tendência deve reforçar o valor da Libra diante do Real.

Seguimos de olho.

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