Fim do ciclo de cortes de juros, será mesmo?

Cortes de juros são a palavra da vez. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve System (FED) decidiu cortar a taxa básica de juros novamente. No Brasil, o Banco Central também deu continuidade ao ciclo de estímulos monetários e em maior magnitude.

A diferença vem nos comunicados. Enquanto o Bacen mostra-se favorável a pelo menos mais um corte de juros de mais 0,5%, o presidente do FED adotou cautela e disse, em outras palavras, que parece ser o fim de um ciclo de cortes. Será?

Nos EUA, mais cortes podem elevar preços

O presidente da autoridade monetária dos Estados Unidos, Jerome Powell iniciou a coletiva de imprensa deixando praticamente certo que que o FED não fará novos cortes das taxas de juros por lá. 

Após novos corte de 0,25% na taxa de juros de títulos federais, Powell disse que o Banco entende que este é o patamar adequado de juros para a economia americana. Isso quer dizer que, se nada mudar, não será necessário novo corte ou aumento da taxa na última reunião do ano, que ocorrerá nos dias 10 e 11 de dezembro.

Powell destacou que os riscos inerentes à guerra comercial têm diminuído sistematicamente e isso permitiu ao Banco considerar que haverá um crescimento sustentado da economia estadunidense nos próximos meses.

Pouco antes da divulgação da decisão do Federal Open Market Committee (FOMC) ficou conhecido o comportamento do mercado de trabalho do Estados Unidos no mês de outubro. Segundo o instituto de pesquisa ADP, no décimo mês do ano foram criadas 125 mil novas vagas de trabalho, reforçando a tendência de alta dos últimos meses.

Quarta-feira também foi o dia de conhecer a primeira prévia do PIB referente ao terceiro trimestre. Segundo o Departamento de Comércio americano, o PIB avançou 1,9% no terceiro trimestre deste ano. A variação é menor que a vista no segundo trimestre, mas veio maior que a média esperada pelo mercado, +1,6%.

De modo geral, a despeito do risco de uma crise global ocasionada pela, entre outros fatores, guerra comercial, a economia dos Estados Unidos vem mostrando um crescimento sustentado. Portanto, mais cortes de juros poderia ter como principal resultado a elevação do nível de preços para além da meta do banco, que hoje é de 2%.

No Brasil, mais cortes podem estimular investimentos

Ocorre que no Brasil o movimento de corte de juros permanece, mais vivo que nunca, mas por motivos totalmente distintos daqueles apontados pelos membros que compõem o FOMC.

Em breve nota divulgada logo após a decisão de novo corte na taxa básica de juros brasileira, a Selic, o Banco Central deixou explícito que na próxima reunião a ocorrer também nos dias 10 e 11 de dezembro.

No comunicado o Banco Central destacou também que, apesar de algum crescimento econômico ter nos visitado nos últimos meses, não se espera nada além de um crescimento moderado, neste caso, destaco por conta e risco, bastante moderado.

Enquanto nos Estados Unidos a principal motivação para os sucessivos cortes na taxa básica de juros está ligada a uma espécie de prevenção contra a desaceleração vinda de fora, especificamente da China e da Europa, no Brasil, a decisão vem quase como uma tentativa desesperada de trazer um crescimento mais pronunciado de volta ao cenário doméstico.

O Banco Central ressaltou, várias vezes, que a atual taxa de juros está abaixo da taxa estrutural, ou seja, é uma taxa que estimula o investimento. É verdadeira a afirmação de que os investimentos no Brasil têm subido nos últimos trimestres, mas isso é fruto das fortes quedas que se sucederam entre 2015 e 2016. Ainda estamos mais de 26% abaixo no nível recorde de 2013.

Sob esta ótica, talvez seja preciso ir além dos 4,5% prometidos pelo Banco Central do Brasil, de modo que a taxa de juros seja suficientemente baixa para compensar o risco de investir em um país que flerta com a instabilidade política desde 2014.

Perspectivas

Diante dos dados divulgados nesta última quarta-feira e das decisões tomadas pelas autoridades monetárias de Brasil e Estados Unidos, o Real se apreciou levemente, endossando a estimativa do movimento no diário de câmbio.

Existe muito coisa em jogo, mas para resumir a história, há uma certa aposta de que, em algum momento do próximo semestre os Estados Unidos perceberão a necessidade de fazer novos cortes na taxa básica de juros.

Essa percepção vai ao encontro do entendimento de que a guerra comercial pode se estender para além de horizonte relevante, ou seja, deve demorar demais até que as coisas se ajuste de fato.

Se a aposta é de que haverá um processo de desaceleração da economia global mais relevante, isso impactará diretamente o Brasil, que vê nos seus negócios com o resto do mundo uma importante fonte de recursos e de crescimento econômico.

Portanto, por enquanto as águas estão calmas e o cenário é benigno. Ocorre que ainda existe um risco de uma nova crise internacional, e para ajudar, temos no Brasil um elemento potencializador desta crise, a instabilidade política.

Por ora, o Real deve se apreciar em relação ao Dólar, respondendo bem aos estímulos vindo das reformas vindouras encabeçadas pelo Ministro da Economia Paulo Guedes, e os presidentes das casas legislativas brasileiras.

Veremos!

André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.

André Galhardo

Economista-chefe da Análise Econômica, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, e é autor do livro “O Salto do Sapo: a difícil corrida brasileira rumo ao desenvolvimento econômico.”

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