Os Bancos Centrais do mundo estão levando a economia para um ambiente de juros negativos. Veja o que o Japão, que vive este cenário há décadas, pode nos ensinar quanto aos impactos desta tendência.
Taxa de juros negativas, o que era impensável, já é uma realidade há algum tempo em alguns países. As taxas abaixo de zero estão assim há um bom tempo no Japão. O país não foi o pioneiro, mas sim o BCE (banco central europeu), e os dois Bancos Centrais adotam tal política monetária mais agressiva para terem aumento de preços, a inflação.
Contudo, o resultado costuma ser o oposto. Como os preços não aumentam, as pessoas postergam a decisão de compra, esperando justamente que os preços caiam ainda mais. E então as economias dos países ficam estagnadas e param de crescer, o ciclo não gira.
O porquê dos juros negativos
A deflação é considerada como a raiz de duas décadas de estagnação econômica do Japão, já que desde a década de 1990 o país enfrenta o problema. A proposta dos juros negativos é fazer com que as pessoas não deixem o dinheiro parado no banco (uma vez que serão cobradas por isso) e que o consumo e investimento seja incentivado.
Como as taxas baixíssimas não surtiram efeitos ao longo do tempo, o jeito foi cortar abaixo de zero. Tanto que a medida é adotada desde o início dos anos 2000.
Contudo, ainda assim, o ritmo de crescimento econômico esperado não vem e a economia segue patinando.
Por já ser uma característica estrutural do país ter as taxas negativas, nada muda, o que faz os investidores adotarem outro comportamento: investir, aplicar os seus recursos em outros países que oferecem um maior ou ao menos, um pouco de atrativo que seja melhor do que perder dinheiro em seu país.
Comportamento do iene
Diante deste impasse, como o crescimento do país não vem, a moeda também tem um comportamento característico. Como o governo tem feito essa pressão por medidas de estímulo mais radicais, há períodos em que pode causar o enfraquecimento mais forte da moeda. Por exemplo, em uma das vezes em que o país optou por reduzir as suas taxas abaixo de zero, em 2006, o iene teve uma queda livre.
Porém, como os japoneses já se acostumaram a essa realidade e é uma característica estrutural, a moeda voltou a se valorizar e está equilibrada atualmente.
Um dos impactos dos juros negativos japoneses foi que as pessoas começaram a investir mais e mais no exterior. Hoje o Japão é o maior credor do mundo, com USD 3,10 trilhões investidos fora do país.
E o dólar com isso?
O Fed (banco central norte-americano) vem sofrendo críticas e pressão por parte de investidores e até do presidente Trump para que os juros caiam, inclusive abaixo de zero. Basta um olhar rápido nos últimos tuítes de Trump para confirmar.
Atualmente as taxas de juros estão no intervalo entre 1,75% a 2% a.a. Sim, ainda são um tanto quanto altas, mas as perspectivas são de mais cortes neste ano e em 2020. Não sabemos e ninguém sabe até onde podem cair, mas uma vez em que o zero deixou de ser o limite na hora de tentar dar um impulso e fazer as economias crescerem, não é impensável vermos taxas bem baixas e até negativas.
Portanto, não deixe de acompanhar o movimento de corte de juros nos EUA, pois poderá ser o momento em que o dólar fique enfraquecido em todo o mundo. E mais do que isso, em um cenário de dólar mais fraco, a parcela de hedge (seguro) de seus investimentos, deixa de ser apenas uma exposição à moeda forte, mas também exigirá que você aplique fora de nosso país.
Glenda Mara Ferreira é Economista, bacharel em Relações Internacionais com experiência em planejamento financeiro. Atualmente é especialista em investimentos na Levante. Possui uma conta no Instagram sobre finanças pessoais e economia: @glendamara_ferreira