Na manhã da última segunda-feira (19) o Banco Central do Brasil divulgou os dados do IBC Br referente ao mês de fevereiro. Segundo a autoridade monetária, a economia brasileira apresentou forte crescimento no segundo mês do ano.
Os resultados do começo do ano apontam para uma melhora da economia nacional, e diante disso, surgem alguns questionamentos: a atividade econômica brasileira continuará apresentando números positivos tal como aconteceu com os indicadores dos dois primeiros meses do ano? E neste cenário, é possível traçar uma perspectiva em relação aos investimentos internacionais no Brasil?
Acompanhe nossa análise a seguir.
O que é o IBC Br?
O IBC Br é um indicador de atividade econômica apurado pelo próprio Banco Central e serve como proxy da avaliação do Produto Interno Bruto (PIB). O Bacen faz a análise do ritmo da nossa atividade econômica a partir de indicadores disponibilizados por outros órgãos como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A partir destes é possível estimar qual foi o comportamento da economia nacional e avaliar se houve recuo, aumento ou estabilidade do ritmo de atividade.
Como já foi dito, o IBC Br é uma espécie de “antecipação” dos dados do PIB e a sua importância decorre do calendário de divulgação. Enquanto o IBGE divulga os dados do Produto Interno Bruto apenas trimestralmente, o Bacen publica o indicador de atividade todos os meses.
De modo geral, o IBC Br nos permite entender os caminhos da economia com alguma antecedência quando comparamos com os dados oficiais do IBGE.
O indicador de atividade em 2021
Segundo o Bacen, em fevereiro a economia brasileira avançou 1,7% em relação ao mês de janeiro. Em outras palavras, a economia brasileira produziu 1,7% mais em fevereiro que no primeiro mês deste ano. Trata-se da maior variação mensal desde setembro de 2020, quando o indicador também havia indicado expansão de 1,7% no nível de atividade.
Na comparação entre fevereiro deste ano e fevereiro do ano passado, houve expansão de 0,98%.
Se nós usarmos dezembro de 2020 como base para a nossa análise, é possível dizer que, segundo dados do Banco Central, a economia brasileira cresceu 2,97% este ano. Na comparação com o primeiro bimestre de 2020 o avanço foi de 1,81%.
Apesar de importante, a avaliação do desempenho econômico a partir de dados mensais podem nos induzir ao erro, afinal de contas diversos fatores poderiam ocasionar uma expansão da atividade econômica meramente pontual.
Para corrigir este “problema” nós observamos o comportamento do indicador em trimestres. Na avaliação trimestral temos a seguinte situação: no trimestre móvel, encerrado em fevereiro deste ano, a economia brasileira cresceu cerca de 3,13%, percentual marginalmente acima dos 3,08% do trimestre móvel encerrado em janeiro deste ano. Ambas as comparações foram feitas em relação ao trimestre imediatamente anterior.
Os dados de atividade devem continuar mostrando força da economia brasileira nas próximas leituras?
Os números falam por si, e diante disso, está registrado no indicador mensal do Bacen que a nossa economia está, até o mês de fevereiro em processo de expansão.
Posto isso, não há muito a acrescentar na análise do primeiro bimestre deste ano, e por essa razão, nosso exame partirá dos sinais que as próximas leituras podem nos trazer.
A primeira variável que temos que colocar na balança, infelizmente, é o desdobramento da pandemia no país. O final do mês de fevereiro marcou o início de um forte processo de aumento do número de infecções e de mortes no Brasil. A despeito do elevado volume de novos casos já em meados de fevereiro, os piores impactos vieram a partir do mês de março.
Entendendo que a pandemia foi o principal motivo da recessão construída em 2020 e que neste momento continua sendo a variável explicativa de maior relevância para a nossa incapacidade de deixar esse quadro de relativa prostração, não podemos negar a importância de ter em março e abril deste ano nosso pior momento dentro da pandemia.
Longe de adotar por capricho um tom alarmista ou pessimista, é certo que encontraremos percentuais de atividade econômica mais baixos para os próximos meses. Também é certo dizer que nossa “retomada” foi duramente interrompida pelo agravamento da pandemia por aqui.
Os investimentos vindos do exterior
Primeiramente, é importante destacar que mesmo antes da pandemia, em 2019, já havia claros sinais de diminuição do ritmo de ingressos de recursos estrangeiros sob forma de investimentos no Brasil.
Em 2019, foi registrado um ingresso líquido de US$ 69,2 bilhões, abaixo dos US$ 78,2 bilhões registrados em 2018 e muito abaixo também da média anual vista entre 2011 e 2018, US$ 80,5 bilhões.
Por motivos óbvios, o volume de investimentos estrangeiros reduziu-se à metade em 2020, com empresas estrangeiras restringindo sua atuação a mercados com maior dificuldade de enfrentamento da pandemia, por exemplo.
Apesar dos parcos resultados de 2020, em fevereiro deste ano o Bacen registrou um importante volume de recursos sob forma de investimento no Brasil. Foram cerca de US$ 9 bilhões em investimentos internacionais. Trata-se do maior valor mensal desde agosto de 2019.
O único problema deste número de fevereiro é que cerca de 66% dele é, na verdade, empréstimos de empresas cuja matriz se encontra no exterior às suas filiais brasileiras. Dito de outra forma, não há muito o que comemorar, ainda que este número seja extraordinariamente mais elevado que a maioria dos registros mensais desde dezembro de 2019.
Prognóstico
O movimento de câmbio contratado entre janeiro e fevereiro deste ano se mostrou muito melhor que o registrado em 2019 e 2020. Enquanto nos dois anos anteriores a 2021 o registro bimestral deste indicador havia ficado negativo, nos meses de janeiro e fevereiro deste ano o saldo está positivo em cerca de US$ 7,2 bilhões.
O grande problema para o saldo de câmbio contratado no país é o mesmo que vimos mais acima em relação ao índice de atividade econômica.
Se a entrada de recursos estrangeiros no país foi, em parte, reflexo da diminuição de casos e mortes por covid nas primeiras semanas deste ano, é difícil imaginar que esse movimento se estenda para além do primeiro bimestre de 2021.
Ainda não existem sinais claros de que a fase mais aguda da pandemia tenha passado no Brasil e, em função disso, provavelmente, contaremos com um fluxo menor de recursos internacionais em março e abril.
O agravamento da pandemia é o balde de água fria na retomada econômica brasileira e nos investimentos estrangeiros que teriam como destino o Brasil. Apesar dos números positivos que citamos acima, esses parecem ter sido exceções à regra, ao menos no primeiro semestre deste ano.
Veremos.