Os últimos desdobramentos da campanha eleitoral americana

A poucos dias da eleição presidencial, o mercado financeiro ainda não tem clareza de quem serão o próximo presidente dos Estados Unidos.

A economia, que antes falava favoravelmente de Trump, se desintegrou por completo diante da chegada do novo coronavírus ao país. Pior queniano, a aposta de Trump em relação às novas infecções transformam os Estados Unidos no país com mais casos e mortes decorrentes da nova doença.

Mesmo em um ambiente tão diferente de janeiro deste ano, o resultado das eleições encontra-se relativamente aberto e o impacto disso no câmbio e no mercado financeiro é dúbio.

Acompanhe nossa análise a seguir.

Pesquisas de intenção de votos

O candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, esteve à frente do atual presidente e candidato a reeleição do país em todas as ocasiões de pesquisa de intenção de votos.

Na última pesquisa, Donald Trump, apareceu com onze pontos de desvantagem em relação ao rival democrata.

Com 40% de intenções de votos na pesquisa desta semana, Trump está no menor patamar desde as pesquisas realizadas no começo de outubro.

Apesar de ter apresentado ampla vantagem nas pesquisas de intenção de votos, Biden não tem a vitória garantida ainda.

No sistema eleitoral estadunidense, além do voto popular existe o voto dos delegados de cada um dos estados do país. Para vencer a eleição, o postulante ao cargo de presidente tem que obter votos de pelos menos 270 delegados.

Como uma parte dos eleitores permanecem indecisos (9%) a poucos dias da eleição de 3 de novembro, uma reviravolta não está completamente descartada, tal como aconteceu com a candidata Hillary Clinton, que venceu Trump  no voto popular, mas perdeu na quantidade de delegados.

Cabe lembrar que acontecimentos como esse, de 2016, só aconteceram em outras quatro oportunidades.

Mercado financeiro

Há um velho ditado que diz: é difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro. Isso é ainda mais verdadeiro oito dias antes da eleição, quando economistas e analistas financeiros tentam prever como os mercados responderão a uma administração de Trump ou Biden.

Pense na última corrida presidencial. No final de outubro de 2016, a maior parte de Wall Street estava apostando pesadamente na vitória de Hillary Clinton, enquanto os principais economistas previam um banho de sangue em Wall Street sob o governo de Donald Trump.

Mais uma vez, estamos no final de outubro e abundam as previsões sobre como a reeleição de Trump ou a vitória de Biden moldarão os mercados, bem como o futuro econômico do país.

Olhando para os dados históricos, uma vitória de Trump seria mais benéfica porque os investidores gostam mais quando um presidente ganha a reeleição. Tal avaliação é baseada nos dados históricos que mostram que o S&P 500 tem um desempenho melhor um ano depois que um titular ganha a reeleição do que sob uma nova administração.

Por outro lado, o mercado tem reagido positivamente e demonstra otimismo com uma eventual vitória de Biden, particularmente em função da atual conjuntura conturbada com o coronavírus. 

Trump está atualmente atrás de Biden nas pesquisas nacionais e em vários estados do campo de batalha. De acordo com uma pesquisa recente de firmas de consultoria financeira de primeira linha, mais de um terço disse acreditar que Biden seria eleito presidente, em comparação com 20% que esperavam que Trump vencesse. 

Apenas 15% disseram acreditar que os democratas assumiriam o controle de ambas as casas do Congresso, enquanto 1% disseram que os republicanos controlariam o poder legislativo.

Em uma perspectiva longa e histórica, Wall Street e o mercado de ações parecem gostar de uma divisão entre a Casa Branca e o Congresso porque isso coloca um freio em um ou outro, desse modo, muitas vezes, os mercados têm se saído bem quando o governo está dividido.

Dependendo de quanta cooperação eles obtêm do Congresso, as políticas econômicas de Biden e Trump diferem muito. Independentemente de quem ganhar em 3 de novembro, a expectativa é que o mercado de ações suba. Todos os sinais apontam para ações em alta.

Isso porque, seja qual for o partido que vencer, a Casa Branca e o Congresso provavelmente aprovará outro pacote de estímulo, a vacina COVID-19 estará disponível no próximo ano e a economia dos EUA está se recuperando, lenta mas seguramente.

Dados econômicos

Segundo dados do Departamento de Comércio, o PIB americano cresceu 33,1% na primeira estimativa relativa ao terceiro trimestre deste ano. O volume de crescimento é absurdo porque trata-se de uma taxa anualizada.

O dado foi bem recebido pelo mercado financeiro porque a estimativa era de uma expansão marginalmente menor, algo em torno de 31%.

A despeito da expansão da atividade no terceiro trimestre, é importante lembrar que o número não recuperou ainda o patamar em que a economia estava antes da pandemia. Segundo dados oficiais, a economia americana contraiu 31,4% no segundo trimestre deste ano.

Depois de começar 2020 com a menor taxa de desemprego desde 1969, a economia americana sofreu os impactos da pandemia e viu seu mercado de trabalho se deteriorar rapidamente.

Segundo dados oficiais, a taxa de desemprego, que em janeiro de 2020 era de 3,5%, chegou a 14,7% em março e encerrou o mês de setembro em 7,9%.

Segundo o Federal Reserve (FED), serão necessários ao menos um ano e meio para que as coisas voltem aos patamares pré-crise.

O número de novos pedidos de seguro-desemprego semanal têm apresentado resultados cronicamente elevados e existe uma especulação de que a situação se agrave quando os auxílios dados pelo governo para o enfrentamento da pandemia chegarem ao fim.

Outro ponto importante diz respeito ao desempenho da balança comercial americana. Segundos dados do Departamento de Comércio, o maior déficit comercial registrado em um único mês em toda a história americana aconteceu em agosto deste ano.

Os dados de setembro ainda não foram detalhados, mas já sabemos que a diferença entre exportações e importações continua acima da média dos últimos anos.

Esse é um duro golpe na política empreendida por Donald Trump, que prometeu aos seus eleitores uma dependência menor do setor externo no que diz respeito ao comércio de bens e serviços.

Impactos no câmbio

De forma consciente, não falamos em mais detalhes da guerra comercial. Esse assunto já foi amplamente tratado por nós em outras oportunidades, mas aqui é importante fazermos ressalva.

Não acreditamos que uma vitória democrata acaba por completo com o que se convencionou chamar de guerra comercial com a China, afinal, apesar do nome, essa disputa entre as duas maiores economias do mundo é muito mais que uma guerra por saldo na balança comercial. Trata-se de uma disputa de poder que envolve tecnologia, geopolítica e demais aspectos estratégicos.

Diante disso, é de se esperar que uma vitória de Biden carregue consigo alguns dos problemas levantados na gestão Trump, mas diante do tamanho do buraco em que a economia global se encontra, é difícil inimaginável lar uma deterioração ainda maior.

Uma vitória democrata pode trazer um alívio momentâneo e isso pode influenciar positivamente o valor das moedas dos países subdesenvolvidos como o Brasil.

Enquanto a reeleição representaria a renovação de ataques verbais e aumento do clima de incerteza em relação ao funcionamento da “globalização”, o que impactaria negativamente o real.

Tratam-se apenas de suposições, o que é certo é que a saída da crise do coronavírus e a aprovação de pacotes de estímulo podem trazer algum alento à economia global.

Veremos.

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