O ministro da Economia, Paulo Guedes, está em Davos, na Suíça, e em um dos encontros em que participou, voltou a falar da possibilidade de uma moeda comum entre Brasil e Argentina. A moeda, que já é chamada de “Peso-Real”, não é inédita.
O tema já foi comentado pelo próprio Guedes em 2019, inclusive com diálogos entre as autoridades argentinas, mas possui raízes ainda mais antigas. No Fórum Econômico Mundial, Guedes trouxe o tema para a pauta ao defender maior integração na América Latina e falando de um cenário para 15 anos.
Acompanhe nossa análise a seguir.
Paulo Guedes em Davos
O ministro da Economia, Paulo Guedes, viajou a Davos, na Suíça, para participar do Fórum Econômico Mundial. Além do evento, Guedes aproveitou para alguns encontros e reuniões relacionados ao encontro. O retorno de Davos deve acontecer nesta sexta-feira, 27 de maio.
Dentre as atividades exploradas por Paulo Guedes em Davos, estavam previstas reuniões sobre crescimento sustentável, parcerias econômicas com a Ásia e o Pacífico, perspectivas da conjuntura econômica global e parcerias econômicas na América Latina.
A ideia de Paulo Guedes em Davos é apresentar o Brasil aos participantes do Fórum Econômico Mundial como um destino privilegiado para investimentos, o que faz bastante sentido tendo em vista a elevada Selic e a conjuntura internacional.
Além disso, em linha com outras pautas importantes abordadas no âmbito do Fórum nos últimos anos, Guedes também pretende reforçar a imagem do Brasil como um país destacado para soluções de segurança energética e alimentar internacional.
Paulo Guedes em Davos falou sobre Peso Real
Paulo Guedes aproveitou a oportunidade da participação no Fórum Econômico Mundial para trazer um outro assunto para a pauta: o peso real. O tema do encontro em que Guedes levantou essa ideia foi empreendedorismo e práticas de governança, sociais e ambientais na América Latina.
O ministro da economia destacou que uma moeda comum no bloco deve ser uma realidade nos próximos 15 anos, principalmente por conta das complexidades que envolvem a criação de um sistema monetário com tantos países envolvidos.
Apesar dos desafios, há vantagens que o próprio Guedes apontou em sua fala. Dentre elas, promover uma maior integração na América Latina e garantir o fortalecimento dos países para investimento e comércio, em meio a um cenário de alto risco geopolítico, são pontos importantes.
Dada a surpresa do tema e a relevância do evento, Guedes pode dar mais pistas da proposta, uma vez que conversas entre Brasil e Argentina já estão em curso desde 2019. A ideia, contudo, vê resistência de diversos especialistas.
Adotar uma moeda única significa abrir mão de sua autonomia monetária. As decisões passariam a ser tomadas pensando no bloco, não somente nas peculiaridades de cada país. Argentina e Brasil são grandes economias no bloco, mas com diferenças bastante relevantes, diga-se de passagem.
A economia brasileira é significativamente mais avançada do que as demais economias que compõem o Mercosul, é importante ressaltar. E, além disso, o Mercosul precisa ter muito mais maturidade para que esse passo seja dado.
De onde vem o assunto do Peso Real
O assunto veio a primeira vez à tona na mídia em 2008, durante o governo do então presidente Luiz Inácio “Lula” da Silva. O assunto veio a primeira vez à tona na mídia em 2008, durante o governo do então presidente Luiz Inácio “Lula” da Silva. Lula trouxe novamente o assunto em pauta no final de abril de 2022, mas desta vez, ele associou a criação da moeda a uma redução da dependência do dólar.
Em 2016, o presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou a fazer uma publicação crítica às falas do ex-presidente Lula. E ainda nos primeiros meses de seu governo, em 2019, apesar de críticas diretas ao Mercosul, indícios de afeição à ideia da moeda única foram mostrados.
Bolsonaro havia dito que o ministro teria dado um primeiro passo em direção ao sonho de uma moeda única do Mercosul e lançou o nome: Peso-Real. O euro, a moeda oficial adotada por 19 dos 27 países da União Europeia, é uma referência para o governo.
Naquela altura, a ideia era defendida pelos argentinos, mas não houve avanços. Pandemia veio e muita água passou embaixo da ponte até que Guedes voltou a falar sobre o assunto em agosto de 2021.
Guedes enxergava que uma moeda única para o Mercosul iria integrar ainda mais a região e, com a área de livre comércio adotando essa moeda, o bloco lançaria ao mundo uma divisa que poderia ser uma das moedas mais relevantes no mundo.
Inspiração para o peso real
A inspiração para o peso real vem do Euro, a primeira moeda e única moeda dentro de uma União Econômica e Monetária (UEM) no mundo. Mas não foi uma trajetória linear, tampouco rápida. O tema começou a ser debatido em 1969, em 1986 um tratado foi assinado, em 1998 a decisão foi tomada e somente em 2002 o Euro começou a circular no mundo como moeda única do bloco.
Durante essas décadas, a União Europeia se fortaleceu como uma potência econômica e os países que compõem a Zona do Euro também ganharam ainda mais força com a circulação da moeda única. Apesar disto, o Euro já passou por grandes dificuldades.
Uma dessas dificuldades foi a crise da dívida pública que afetou os países do bloco em 2010. Por conta de dívidas públicas acumuladas por países como Grécia, Itália, Portugal e Espanha, honrá-las ficou insustentável, mas desonrá-las traria graves consequências econômicas para todo o bloco.
Além disso, o Brexit, expressão usada para designar o processo de saída do Reino Unido da União Europeia iniciado em 2017, também abalou frontalmente a confiança no bloco, ainda que o Reino Unido não fizesse parte da UEM, mas somente da União Aduaneira entre os países.
Isso mostra que a adoção de uma moeda única poderia trazer algumas vantagens, mas dada a heterogeneidade das economias do Mercosul, o chamado “Peso-Real” dificilmente seria uma saída viável para aumentar a integração comercial do bloco.
Seguimos de olho!