Cerca de US$ 300 bilhões do patrimônio dos argentinos está alocado em papel moeda de dólar adquirido por caminhos não oficiais. Entenda o porquê.
A situação na América Latina não está das mais simples. A cada dia que passa temos um novo evento de cunho político e econômico que coloca a região nas capas dos principais jornais mundo afora. Invariavelmente, os motivos não são positivos.
Cientes da situação nada favorável, os argentinos têm optado por fazer um investimento para fugir de possíveis crises, caos, confiscos e, principalmente, da inflação que já é superior a 50%. Eles têm comprado dólar. E é exatamente da forma que você pode ter pensado: dólar embaixo do colchão. A compra não é feita via fundos cambiais, nem produtos de investimentos sofisticados, mas pela compra direta da moeda. Apenas aqueles com mais recursos disponíveis abrem contas no exterior.
O problema é que a compra tem sido feita não da maneira correta. Os argentinos compram com “doleiros” (representantes de casas de câmbio paralelas), o que é ilegal. O governo, ciente da decisão dos argentinos e para evitar que a moeda se esgote, tem sido bem rígido quanto ao limite de compra de dólares. Já reduziu inclusive a autorização de compra de US$ 10.000 por mês para apenas US$ 200 por mês.
Não é para menos, as reservas internacionais do país, um recurso que é usado para pagar as dívidas junto com o FMI e outras despesas como déficits comerciais, estão em US$ 40 bilhões.
De acordo com o Indec (órgão equivalente ao IBGE na Argentina), há mais de US$ 300 bilhões fora do sistema financeiro oficial do país. O valor equivale a 85% do PIB da Argentina, e está bem próximo de cobrir toda a dívida do país, que está em aproximadamente US$ 330 bilhões.
O que podemos aprender com os argentinos
A forma de investimento dos argentinos faz sentido não apenas para eles, como uma forma de se protegerem ao menos da inflação. Atrelar o patrimônio investido ao câmbio pode ser uma medida interessante para nós, brasileiros.
Nossa economia está muito mais estável e segura que a Argentina, caminhamos em direção a uma retomada e a Bolsa de Valores e outros investimentos são rentáveis. Contudo, é altamente recomendável ter uma pequena parcela de seus investimentos em moeda forte. Isso porque, além de contar com mais em momentos mais tensos, o dólar tende a se valorizar e assim você consegue equilibrar melhor a sua carteira de investimentos.
Há um viés conhecido como home bias (viés doméstico), nada mais é do que a tendência em investir apenas em seu próprio país. Porém, como ainda somos um país emergente, contar com essa diversificação se faz muito importante.
Portanto, na próxima vez em estiver analisando qual deve ser o seu próximo investimento, lembre dos argentinos e tenha algum tipo de exposição a moedas fortes.
Glenda Mara Ferreira é Economista, bacharel em Relações Internacionais com experiência em planejamento financeiro. Atualmente é especialista em investimentos na Levante. Possui uma conta no Instagram sobre finanças pessoais e economia: @glendamara_ferreira