Chile, Bolívia… diversos países latino-americanos estão passando por crises geopolíticas e isso reflete diretamente no câmbio e também na bolsa de valores.
Em meio a um turbilhão de dificuldades na América Latina, investidores se sentem inseguros em aportar capital por esses lados. E essa insegurança tem afetado o Brasil. A saída de dólares do país bate recorde atrás de recorde a cada semana, com reflexos imediatos nos índices financeiros, dentre eles, câmbio e bolsa.
Acompanhe os desdobramentos desses acontecimentos sobre as principais moedas.
Dólar ainda é impactado pela incerteza quanto ao acordo comercial
Nos EUA, além do processo de impeachment de Donald Trump, o ponto alto desta semana ficou para o discurso do presidente na Base de Andrews, antes de uma visita ao Alabama. Trump salientou que as negociações com a China estavam indo bem, mas que os EUA só fechariam um acordo se fosse o “certo”.
Isso trouxe preocupação para o mercado, uma vez que ampliou as incertezas em torno do conflito sino-americano que, até pouco tempo, estava caminhando para um acordo. De todo modo, tais incertezas foram marginais perto das dificuldades na AL.
Os conflitos políticos que assolam os países latino americanos são reflexo da insatisfação da sociedade com as dificuldades socioeconômicos enfrentadas nos últimos anos. Isso é evidente na Argentina, Chile e Peru, por exemplo.
Não bastasse essa problemática que ronda o Brasil, o presidente Jair Bolsonaro também trouxe alguma insegurança ao ambiente interno com a mudança de partido. Bolsonaro decidiu oficialmente sair do Partido Social Liberal (PSL) e iniciar o partido “Aliança pelo Brasil”.
O movimento divide analistas políticos, mas parece consenso que essa transição pode ampliar instabilidades políticas em um momento importante para o governo, com diversos projetos de lei transitando pelo Congresso.
Nesse contexto, a moeda americana saiu de R$ 4,1518 na segunda-feira (11) e abriu o pregão desta quinta-feira (14), véspera de feriado, negociada na casa dos R$ 4,1698. Após a forte depreciação do Real na semana anterior, a moeda brasileira persistiu no movimento e acumula depreciação de aproximadamente 0,45%.
Cenário positivo na Alemanha mantém Euro estável
O Euro se manteve relativamente estável ao longo desta semana. Boa parte do desempenho pode ser atribuído a um ajuste de expectativas A moeda europeia abriu a semana cotada a R$ 4,5895, e oscilou em torno desse preço até esta quinta-feira (14).
Parte da responsabilidade tem sido atribuída a melhora nos indicadores econômicos da Alemanha, de modo geral. Resultado comercial externo melhorou, desempenho da indústria foi positivo e, para coroar a semana, a Alemanha está fora da possibilidade de recessão técnica.
O resultado preliminar do PIB alemão referente ao terceiro trimestre deste ano registrou alta de 0,1%. É claramente um resultado fraco, mas melhor do que os -0,1% registrados no trimestre anterior. Com isso, a economia da Zona do Euro cresceu 0,2% no trimestre.
Assim, nos primeiros minutos do pregão desta quinta-feira, o Euro, que iniciou o dia cotado a R$ 4,5905, já estava sendo negociado a R$ 4,5840, uma leve apreciação do Real de aproximadamente 0,12% em relação à moeda europeia.
Corrida eleitoral britânica causa efeitos na Libra Esterlina
No Reino Unido, o grande tema da semana é a corrida eleitoral – que deve ser tornar mais acirrada ao passo que a data das eleições se aproximam.
Pesquisa divulgada esta semana pelo instituto de pesquisa YouGov na terça-feira (12) mostrou que o Partido Conservador, do atual primeiro ministro Boris Johnson, possui vantagem em relação aos demais partidos.
Até o momento, os resultados evidenciam um apoio forte da população britânica aos Conservadores e, ao que tudo indica, a pauta do Brexit. Se o movimento persistir e se comprovar, a jogada de Johnson de antecipar as eleições pode se mostrar certeira e o divórcio entre Reino Unido e União Europeia pode se concretizar antes do que imaginamos.
Seguindo esse movimento político, a Libra Esterlina abriu a semana cotada a R$ 5,3202. A moeda britânica seguiu trajetória de apreciação em relação ao Real. Em meio ao avanço da corrida eleitoral britânica, o Real manteve trajetória de depreciação em relação à Libra, sendo negociada no patamar de R$ 5,3597 na abertura do pregão de quinta-feira (14/11), variação de aproximadamente 0,74%.
Perspectivas
O contexto de incertezas e inseguranças persiste. Apesar de não ter sido ponto da análise desta semana, é importante deixar registrado que o desempenho econômico da China também tem reflexos para a cotação das principais moedas, uma vez que o gigante asiático, há décadas, é o motor do crescimento global e seus últimos dados econômicos têm mostrado fraqueza.
No mais, o contexto político latino americano tem sido grande força motriz para o comportamento de investidores e, por conseguinte, do Real frente às principais moedas dos países desenvolvidos.
Podemos esperar continuidade da tendência à depreciação da moeda brasileira enquanto as incertezas e, por conseguinte, inseguranças institucionais persistirem.
Seguimos de olho.
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André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.